sábado, 13 de março de 2010

A PRISÃO DO SILÊNCIO

Kevin Richter, um rapaz de quinze anos, vivia num mutismo voluntário há cerca de oito anos. Durante todo este tempo frequentou diversas instituições de acolhimento. Foi então que, no Instituto Garson Gayer, Kevin conheceu a técnica de ensino especial, Torey Hayden. Esta fora sido contratada, a fim de ajudar o rapaz a sair da sua “prisão” e a tentar perceber as razões que o levaram a tal.

Quando Torey viu Kevin pela primeira vez, encontrou-o debaixo de uma mesa, barricado , com as cadeiras à volta. Balançava o corpo para a frente e para trás com o medo estampado no rosto. Para além de não pronunciar uma palavra, recusava-se também a tomar banho, pois tinha pânico da água e de se despir por completo. Todo o pessoal de Garson Gayer o tratava por Enjaulado e consideravam-no um caso perdido. Mas Torey não desistiu dele como muitos outros haviam feito. Levava-lhe livros de pintar, para as sessões, juntamente com canetas de feltro e lápis para colorir. Foi assim que lhe descobriu o talento para a pintura.

Mesmo face a estes progressos, Torey não se dava por satisfeita com a falta de informações do processo do rapaz. Já o lera dezenas de vezes, mas de nada lhe serviu. Após ter arranjado o contacto de uma antiga assistente social, que se ocupara do caso de Kevin há alguns anos, Torey veio a descobrir uma terrível história de violência e abandono: Kevin vivera com a mãe, o padrasto e as suas duas irmãs mais novas, Carol e Emily.

O padrasto de Kevin era alcoólico e, devido a esta anomalia, Kevin recusava-se a dirigir-lhe uma sequer palavra. O padrasto, perante tal afronta, maltratava as irmãs diante do rapaz e chegou mesmo a abusar de Carol, a irmã mais nova. Mas não ficou por aqui. Certa noite, o padrasto chegou a casa em tal estado que se zangou com a pobre Carol. Kevin, na tentativa de proteger a irmã, suplicou à mãe que fizesse algo, que o tentasse impedir de bater na menina. Mas esta respondeu-lhe que não se metesse nos assuntos deles. Carol foi espancada até à morte com a placa do fogão até se conseguirem ver os miolos espalhados na enorme poça de sangue.

Hayden trabalhou com Kevin durante cerca de três anos. Foi um processo lento de evolução, mas no fim, Kevin tinha vencido todos os seus medos e os “ataques de fúria” (esquizofrenia) estavam bastante mais controlados. Já se parecia com um rapaz normal, como ele referiu numa das sessões.

Torey arranjou uma casa de acolhimento para Kevin. Nesta casa, para além da recente presença do rapaz, viviam mais cinco adolescentes com passados semelhantes e um casal que desempenhava o papel de pais. No início, Kevin não gostou da casa e nem sequer fez um esforço pois, recentemente tinha sido rejeitado. Mas Torey convenceu-o. Voltou à escola e encontrava-se bastante feliz e orgulhoso dos seus resultados. A sua vida tinha ganho um novo rumo e, como todos os adolescentes, apaixonou-se pela primeira vez…


Rita Almeida

1 comentário:

Anónimo disse...

Torey Hayden tem o dom de nos proporcionar momentos de grandes emoções, pois as suas obras fazem-nos mergulhar em verdadeiros dramas humanos. Que vidas atribuladas! Ninguém merece viver assim. - pensamos nós ao partilharmos essas suas experiências. Porém, a esperança nunca morre nos corações das suas figuras humanas. Elas veem sempre a luz ao fundo do túnel. Há sempre uma centelha que nunca se apaga. Eis as provas que nos tornam mais fortes e mais serenos face à vida. Bem hajas pela tua partilha de leitura.